A morte não apaga os bons sentimentos

 In Especiais, FHGV, Hospital Municipal Getúlio Vargas, Notícias

Cento e cinco dias de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Se houve momentos de dor, de angústia ou desesperança, não faltaram gestos de apreço, de cuidado, de empatia. Profissionais que se tornam amigos, emprestam o ombro, consolam, enfim, se transformam em família.

Ao amanhecer do último dia 27/10, funcionários do Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV), de Sapucaia do Sul, foram acolhidos com uma faixa empunhada pela filha e uma amiga de dona Solange Levandoski, que havia partido há dez dias, aos 75 anos, após longo período de enfermidade. Internada em 04 de abril com uma broncopneumonia, ela veio a óbito após sofrer uma parada cardíaca poucos dias antes. Nem a tristeza e a dor inigualável pela perda de uma mãe foram maiores que o sentimento de gratidão.

“Nosso agradecimento especial aos profissionais da UTI A2, profissionais de portaria da FHGV e recepção pelo zelo e carinho com nosso amor maior. Foram 105 dias de internação até o seu descanso. Nenhuma instituição se mantém sem profissionais qualificados, mas principalmente sem profissionais humanos que têm a capacidade de entender a dor e acolher o paciente e seus familiares.” Esta é a mensagem exposta em faixa e exibida primeiro na entrada funcional do hospital, depois em frente a instituição.

Traduzir o apreço

Bárbara Levandoski Colombo é a filha que morava com a mãe e de quem partiu a ideia de homenagear os funcionários. “Várias vezes fui surpreendida ao chegar para a visita e encontrar minha mãe sentada em uma poltrona, coisa que não imaginava ainda ser possível em razão do estado de saúde dela”, relata. “Em outros momentos, tivemos a oportunidade de conversar com nossa mãezinha, graças ao carinho da equipe, que através de um alfabeto impresso em uma folha oportunizou que falássemos com ela as últimas frases”, diz emocionada.

Sonhei com a Pelú, escreveu a mãe sobre a cachorrinha de estimação que havia morrido um dia antes.
Gosto muito das meninas, comentou sobre a equipe assistencial.
Quero uma blusa pra dormir, pediu pelas letras do alfabeto desenhado.

Quem teve a ideia de fazer essa comunicação entre a mãe e os familiares foi a técnica em enfermagem, Tatiana Rodrigues, que há quatro anos trabalha no HMGV. “Percebi que ela queria muito se comunicar e lembrei da tabela que usávamos durante a pandemia com pacientes entubados”, conta. Para a técnica, é impossível não ir além em um caso como esse. “Dona Solange ficou mais de 100 dias conosco, assim estabelecemos vínculos, com ela e sua família, que a visitava todos os dias”, relembra Tatiana.

Humanizar a missão

Bárbara conta que, mesmo sabendo que não havia reversão para o caso de dona Solange, queria que a mãe fosse tratada com dignidade no fim da sua vida. “Ela sempre foi muito bem cuidada no hospital. Não consigo dar um preço pela assistência recebida em todos os sentidos. E não é só profissionalismo, é amor mesmo. Empatia com o paciente e a família”, resume a filha com voz embargada.

Para a chefe da UTI Adulto, Jéssica Kasper, o cuidado com o paciente deve ser sempre o mesmo, não importando o quadro de saúde, se irreversível ou não. “Mesmo entubada, é muito importante retirar a pessoa do leito, pois significa humanizar e qualificar a assistência”, exemplifica.

“Para nós, cada paciente, por consequência, cada família, é única aqui na UTI”, diz o médico Felipe Eduardo Rodrigues, que cuidou de dona Solange. Segundo ele, o mais importante é ter empatia, se colocar no lugar dos parentes. “Perdi as contas de quantas vezes falei com os familiares ao longo da internação da paciente. Percebi o quanto eram unidos e o valor que a mãe tinha para os filhos”, relembra. “Acalmar, dar conforto e até preparar para as piores possibilidades, exige empatia. E é isso que adoto no meu dia a dia”, finaliza Felipe.

Texto: Rogério Carbonera – MTB 7686 / Comunicação FHGV

Fotos: Comunicação FHGV e Arquivo Pessoal

Recent Posts