Morte encefálica e abordagem familiar desmistificam entraves para doação de órgãos

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Profissionais do Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV), em Sapucaia do Sul, organizaram com as Organizações de Procura de Órgãos (OPO), a oficina “Doação de Órgãos – 1 salva 8″, que buscava, além de incentivar a campanha de doação, explicar o que é morte encefálica e seu protocolo de determinação de forma transparente. No ano passado, ocorreram 12 mortes encefálicas no Getúlio Vargas, que resultaram em três casos de doadores. Neste ano, até o momento, foram nove com quatro casos de doações.

No estado existem sete OPOs, que têm como função a organização da procura por doadores de órgãos e tecidos nos hospitais dentro de sua área de atuação. O HMGV está ligado a OPO 1 do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. A enfermeira da OPO 1, Simone Lysakowski, orientou na oficina sobre a adoção de uma abordagem mais empática de comunicação dos profissionais da saúde para com os familiares dos pacientes, principalmente quando se fala de doação de órgãos.

“Acho que isso é fundamental para todos que trabalham na área da saúde, mas, infelizmente, é algo que não temos em nossa formação. Nosso foco é na parte técnica, que é uma etapa importante do cuidado, mas a família é o seguimento desse cuidado. A forma como nos posicionamos e acolhemos os familiares, além de ser essencial, impacta na decisão de falar sim para a doação. É importante ter um olhar para a família considerando a necessidade de cada familiar”, refletiu Simone.

A enfermeira ainda observou que todo hospital deveria ter uma Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), pois, nos hospitais que a Comissão não existe, os integrantes da OPO desempenham esse papel. “Nós, vindo de fora como OPO para conversar com os familiares em um momento extremamente delicado, pode causar estranheza, pois eles não nos conhecem. Então, se há uma CIHDOTT formada dentro do hospital, o familiar cria familiaridade com aqueles profissionais que ele vê constantemente e se sente mais confortável em conversar”, apontou.

Morte encefálica

A coordenadora médica da Unidade de Terapia Intensiva Adulto e presidente da CIHDOTT do HMGV, Liliana Gomes Pellegrin, também foi uma das palestrantes. Ela abordou o protocolo adotado pelo hospital para determinar a morte encefálica, que passa por diversos profissionais para garantir a certeza do diagnóstico. A médica esclareceu que todas as etapas do protocolo são realizadas por profissionais capacitados e, caso exista a mínima dúvida, o protocolo não é encerrado. Além disso, ela acrescentou acerca da atuação da CIHDOTT na interlocução com as famílias para a autorização da doação de órgãos.

“Qualquer pessoa que venha a falecer por morte encefálica, através da autorização da família, pode ser doador e hoje, no Brasil, existem mais de 50 mil pessoas aguardando por um transplante. A nossa função, enquanto Comissão, é esclarecer para as famílias o que é a doação de órgãos, abrir a conversa para essa possibilidade que pode mudar a perspectiva da vida de uma pessoa. Porém, sempre entendemos quando a família recusa a doação”, afirmou Liliana. A autorização da doação de órgãos pode ser feita por, pelo menos, um familiar de até 2º grau, entretanto, sempre é buscado um consenso entre os familiares.

O coordenador da Linha de Cuidado do Acidente Vascular Cerebral (AVC) da FHGV, Diógenes Guimarães Zãn, explicou na oficina o que é uma morte encefálica, suas causas e como é atestada. Segundo ele, quando o paciente dá sinais que o cérebro não está mais funcionando, é preciso suspeitar de morte encefálica e começar a realizar os testes para ver se o cérebro está trabalhando. Outra explicação do coordenador refere-se à diferenciação de morte encefálica e do estado vegetativo. Na primeira situação, os pacientes com morte encefálica têm uma condição permanente em que não há indício algum de funcionamento encefálico. Já, no estado vegetativo, há uma disfunção cerebral importante e severa, mas existem indícios de funcionamento cerebral.

Por fim, Zãn fez uma reflexão: “o cérebro faz com que sejamos nós. Se o cérbero não funciona mais e ele morreu, a pessoa não está mais ali. A morte é um processo natural da nossa biologia e, às vezes, é estranho para nós entender isso como morte. Contudo, aquele paciente que o cérbero não está mais lá, mas o restante dos órgãos ainda funcionam, por conta do suporte que os profissionais intensivistas fornecem, pode ajudar e dar vida para uma outra pessoa”, finalizou.

Texto e fotos: Karolina Kraemer, orientada por Jocélia Bortoli – MTB 9653 / Comunicação FHGV

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