Grupo Psicoterápico de Luto do HMGV acolhe familiares que enfrentam perdas para a covid-19

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Pessoas que perderam familiares e amigos para a covid-19, desde junho, contam com o Grupo Psicoterapêutico de Luto oferecido pelo Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV), de Sapucaia do Sul. O serviço tem como objetivo ajudar as pessoas que precisam enfrentar essa realidade, já que há mais de um ano, a pandemia do coronavírus mobiliza as equipes de saúde em todo o mundo. Destinado a adultos, o grupo acontece toda terça-feira, às 9h, na sala de aula 1 do hospital.

A cabeleireira Elaine Rosa Gurgel, e a dona de casa Maria Rita Gurgel, participaram pela primeira vez de um atendimento psicológico. Elas são mãe e filha e residem em Sapucaia. Elaine perdeu o pai, e Maria Rita, o marido, que faleceu em setembro passado devido a complicações em decorrência do coronavírus. Ele ficou internado 28 dias no HMGV, e durante 26, precisou de intubação. Elaine e Maria Rita buscaram o grupo no hospital para terem um apoio profissional na superação da perda.

“Somos evangélicas e tivemos o apoio de um pastor, mas essa ajuda psicológica é muito boa e pretendo voltar”, afirma Maria Rita. Para Elaine, que também buscou suporte religioso para enfrentar a situação, o atendimento psicológico foi bem satisfatório. “Apesar de eu já ter suporte da parte de Deus e do Espirito Santo que me consola, diariamente. Como somos evangélicas, não é de nosso costume procurar atendimento psicológico logo de cara. Se a questão não se resolve, eles mesmos nos aconselham a procurar um profissional. Nós recebemos o convite para participar desse grupo e achamos interessante poder compartilhar a história e ver que não é só a gente que passou por essa situação. Ouvir as histórias faz com que a gente tenha mais força para seguir em frente. Existem famílias que perderam cinco pessoas para a covid-19 e temos conhecidos que, num mesmo dia, perdeu o marido e o filho”, opina Elaine.

Para a cabeleireira, o grupo promove a ajuda mútua e o apoio uns nos outros. Quando o seu pai estava internado no HMGV, ela conta que recebia, diariamente, às 13h, uma ligação feita por médico. Entre as dificuldades citadas por ela estão não poder ver e nem falar com pai enquanto internado e nem poder vê-lo no caixão. “Muitas pessoas não conseguem desfrutar desse suporte do atendimento psicológico e precisam desse trabalho. É bom saber que o hospital se preocupa em fazer isso com as famílias que perderam seus entes queridos”, reforça Elaine.

Grupo Psicoterápico de Luto

O Grupo Psicoterápico de Luto do HMGV funciona com o trabalho da psicóloga Maria Eduarda Freitas Moraes, que é mestre em Psicologia, com ênfase em Psicologia da Saúde, pela Universidade Federal de Santa Maria. Segundo ela, o objetivo do grupo é oferecer espaço de acolhimento para compartilhar experiências e elaborar coletivamente estratégias para conviver e lidar com as perdas vividas em função da covid-19. “O grupo é diferente do atendimento individual porque permite escutar e reconhecer que existem experiências que possuem aspectos semelhantes e diferentes dos que vivemos”, esclarece.

Maria Eduarda observa que a hospitalização e eventual perda de um familiar devido à covid-19 diferencia-se de outras perdas pela impossibilidade de estar próximo fisicamente, pela ansiedade gerada pela espera de notícias do seu familiar, pelas restrições dos rituais de despedida, bem como pela incerteza e pela instabilidade. “Assim, a perda de um familiar em função da covid-19 é potencialmente traumática. Além disso, o número de óbitos faz com que essa experiência seja ainda potencialmente traumática a nível coletivo. Por isso, esse momento demanda intervenções para criar alternativas para lidar com esse sofrimento”, ressalta. A psicóloga observa ainda que muitas pessoas tendem a não querer falar sobre a perda do seu familiar por acharem que é pior falar ou porque ficarão mais angustiadas, o que no seu entendimento, acaba não se mostrando benéfico na prática porque a experiência que não foi falada e elaborada pode retornar de modo mais angustiante quando a pessoa vivenciar outras perdas no futuro.

“Falar sobre as perdas se faz necessário para conviver melhor com a experiência vivida. A tristeza é um sentimento natural e saudável de ser sentido quando se perde alguém importante para nós. Se era alguém que fazia parte da rotina, essa perda tende a abalar todo o modo como a pessoa se organizava. Então, se segue um período em que a pessoa ainda ficará confusa sobre como retomar sua rotina ou mesmo pode se sentir sem vontade de realizar algumas atividades. O apoio e o acolhimento de familiares e de amigos sem expressar julgamentos nesse momento é essencial, sobretudo, porque sentimentos fantasiosos de culpa podem estar presentes. No entanto, se com o passar do tempo, a pessoa não consegue reestabelecer uma rotina nem manter e desenvolver vínculos com outras pessoas da sua rede de apoio, acaba sendo preocupante e demandando atendimento profissional”, finaliza Maria Eduarda.

As ações do Grupo Psicoterápico de Luto são desenvolvidas por meio da Linha de Cuidado Adulto do HMGV. Mais informações são fornecidas pelo telefone (51) 3451 – 8200 e ramal 196.

Texto e foto: Jocélia Bortoli – MTB 9653 / Comunicação FHGV

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